Por Sylvia de Sá, do Mundo do Marketing | 15/01/2010 - http://www.mundodomarketing.com.br
O acesso das classes da baixa renda ao mercado possibilitou que estas famílias consumissem mais. Consequentemente, o grau de endividamento entre estes consumidores aumentou. A novidade é que eles não pretendem parar de comprar. No último ano, o nível de endividamento das famílias paulistanas que recebem até três salários mínimos foi de 49%, segundo uma pesquisa realizada pela Fecomercio.
No entanto, de acordo com a mesma pesquisa, apenas 8% destas famílias declararam que não teriam condições de quitar suas dívidas. Para ter acesso a bens duráveis, estes consumidores recorrem aos financiamentos e acumulam parcelas em crediários, cheques, cartões de crédito, entre outros.
VALOR DA PARCELA É MAIS IMPORTANTE DO QUE O PRODUTO
Entre esses consumidores, o importante é a relação de custo-benefício. Na busca por produtos de qualidade, o cálculo dos juros, em geral, deixa de ser o principal critério levado em conta ao se endividar. “O mais importante para o consumidor da base da pirâmide é o preço da parcela, se ela cabe no seu bolso. O desejo de adquirir o item deixa o valor dos juros em segundo plano”, diz Mateus Canniatti Ponchio, professor da ESPM SP e especialista no assunto.
De acordo com uma pesquisa da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), dos consumidores de baixa renda entrevistados, 73,5% desconhecem o valor da taxa de juros. “Em todas as classes, existe uma divisão entre altamente endividados, mediamente e os que têm menos dívidas. Os que são altamente endividados conhecem menos as taxas de juros, fazem compras com menor consciência, não controlam os seus gastos e, com isso, atrasam mais os pagamentos”, ressalta Sandra Turchi, superintendente de Marketing da ACSP.
Nas classes da base da pirâmide isto se agrava, pois estes consumidores têm menos renda. Segundo a Fecomercio, em 2009, 21% dessas famílias tinham contas em atraso. Entre os principais meios de financiamento destacam-se o cartão de crédito, com 66,36%, e os carnês de crediário, com 42,99%. Os produtos mais procurados são bens duráveis como eletrodomésticos, eletroeletrônicos e móveis, seguidos de vestuário.
MARCAS CONHECIDAS NÃO SÃO PRIORIDADE
A importância do consumo para este grupo está ligada à noção de inclusão oferecida pela posse de bens materiais. “Valores materialistas são a crença de que a felicidade está na próxima compra, de que comprando as pessoas serão mais felizes. Estes consumidores tendem a julgar o sucesso na vida em termos de quantidade de posses que as pessoas acumulam. Indivíduos mais materialistas são favoráveis ao endividamento”, aponta Ponchio (foto), da ESPM SP, que também é autor do livro "The Influence of Materialism on Consumption Indebtedness: A study of low income consumers from the city of Sao Paulo, Brazil", ainda não publicado no país.
Mas engana-se quem acredita que os consumidores da base da pirâmide priorizam as marcas conhecidas e o status que elas oferecem. Segundo o estudo da ACSP, apenas 21% dos entrevistados das classes de baixa renda se dizem preocupados em obter produtos de marcas consagradas.
“Eles esperam um bom custo-benefício, preocupam-se bastante com a qualidade. Estas pessoas querem consumir coisas boas e o crédito foi o que ajudou a democratizar o acesso a esses produtos”, comenta Sandra Turchi, superintendente de Marketing da Associação Comercial de São Paulo e articulista do Mundo do Marketing, em entrevista ao site.
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